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quinta-feira, 24 de novembro de 2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
RELEITURA DO TEXTO:"DETRAÇÃO E PRECONCEITO" - DE LEANDRO KARNAL - SOLANGE ORLANDELI
A
fofoca e o preconceito
Cada um chama
de barbárie aquilo com o que não está acostumado
Michel
de Montaigne]
A fofoca se apoia no
preconceito. Ela estabelece um modelo de comportamento aceitável e ataca um
comportamento desviante.
Muitos dizem: “Eu não sou preconceituoso”. Quase sempre
depois dessa frase, vem o clássico “mas”, que na verdade precede uma frase
preconceituosa. Exemplo: “Eu não sou preconceituoso, mas convenhamos, o
nordestino...” – “ Eu não tenho preconceito, mas aquele gay...”
E tem mais, para atenuar a ofensiva, usamos um elo afetivo:
“Eu tenho amigos negros” ou “ Meu melhor amigo é gay” – a presença de um negro
ou gay na minha vida, funcionaria como uma proteção contra a calúnia de eu ser
racista.
Essa preocupação se dá porque não é legal ser
preconceituoso nos dois sentidos: é crime perante a lei e é condenado
socialmente.
Curioso: se eu sinto que preciso atenuar uma fala minha é
porque sei que o que pretendo dizer contém algo ruim. A vontade de fofocar é
então maior que o mal que causarei.
O preconceito é universal, existe em todos os grupos
humanos, é uma zona de conforto, onde posso distinguir as irmãs aranhas de
outros predadores. A teia do preconceito é um lugar para acasalar, matar e procriar.
Sem a teia, as aranhas teriam que refletir sobre sua existência e seu
propósito.
Quando é questionado, o preconceituoso se exalta. Exigir
que um racista ou homofóbico pense e atue de forma diferente é pedir que ele
recomece seu mundo.
Ter preconceito é ter falha de visão, um procedimento não
científico, um ato de pouca inteligência, mas pode ser compartilhado tanto por
gênios quanto por estúpidos.
A primeiro característica do preconceito é sua falta de
base científica: mostra minha limitação. O segundo pilar é o medo. Os pobres,
os gays, as mulheres, os nordestinos, os negros, imagino-os capazes de me
destruírem. Enquanto o medo é um dos pais do preconceito, o ódio é seu filho
primogênito.
Há milhões de anos, na África, os chamados hominídeos
estavam em desvantagem em relação aos outros mamíferos: eram frágeis, não
tinham garras, estavam em busca constante de comida e tinham proles
dependentes. Tudo poderia destruí-los: um leão, uma seca, ou outra coisa
qualquer.
Para resistir, esses tiveram que elaborar ferramentas e
estratégias. As ferramentas deram força à frágil mão humana. As estratégias também
foram fundamentais. Andar em bando foi uma dessas estratégias e dava força aos
grupos.
A tribo diferente era o desafio, a insegurança, o risco. “Confie
nos iguais e desconfie dos diferentes” – as explicações para se defender do
diferente foram ficando mais elaboradas: “nós somos descendentes da deusa tal,
somos melhores; a tribo debaixo come mais peixe e usa lanças menores, somos
mais eficientes que ela; etc. No fundo mesmo, eram bandos assustados, buscando
comida, que desconfiavam daqueles que não eram do seu convívio.
O preconceito nasceu como forma de defesa e sobrevivência.
Somos descendentes dos covardes.
O racismo marca a história de muitos países, inclusive o
Brasil. A homofobia gera assassinatos e piadas. Vivemos a lipofobia, o horror
aos gordos, ... a lista é enorme!
O preconceito gera fofoca. Com frequência essa fofoca vem
acompanhada de humor. A comédia flerta com o preconceito. O riso é detestado
pelo poder porque é um gesto político de desconstrução do poder. O riso é uma
poderosa arma de crítica. Faça um esforço para lembrar de alguma piada que não
insulte uma nacionalidade, um gênero, uma orientação sexual ou um tipo físico.
Difícil, não?! As piadas que fazem mais sucesso são aquelas que nascem do preconceito.
Não há muitas piadas sobre homens loiros, cristãos,
heterossexuais, nascidos num grande centro urbano, bem sucedidos
financeiramente e com curso superior. Há mais piadas sobre loiras,
homossexuais, judeus, negros, nordestinos, portugueses, pobres, gordas, etc.
Normalmente, conta-se esse tipo de piada para alguém que
não pertence a esse grupo. Não seria muito esperto, por exemplo, contar uma
piada de argentinos num estádio lotado em Buenos Aires.
O meio mais rápido para unir um grupo, bem sabiam os
nazistas, é criar um inimigo comum. Há prazer em contar piada para alguém que,
como você, não pertence a aquele grupo. Juntos, nos consideramos superiores.
Se fôssemos sábios não atacaríamos ninguém, não faríamos
piadas de ninguém, nem teríamos preconceito com ninguém. Ao invés disso,
riríamos com as crianças, com o Sol e com o mar. Se fôssemos sábios... Releitura do texto: “Detração e preconceito” – de Leandro Karnal – feita
pela professora Solange Orlandeli
terça-feira, 22 de novembro de 2016
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